quarta-feira, 13 de maio de 2009

sentado na paragem de autocarro

Há dois anos saí de casa para apanhar o autocarro. Ia demasiado concentrado na paragem destino. Enquanto corria apercebi-me que não trazia as chaves da minha futura casa.
Voltei atrás para as ir buscar. Não as encontrei. Saí sem elas.
Corria cada vez mais nervoso, porque não sabia onde iria ficar quando chegasse ao destino. Estava mesmo para chegar à paragem do autocarro quando me apercebi que tinha esquecido da mochila com a roupa e com os documentos. Voltei atrás, entrei, novamente, em casa, desesperado. Não a encontrei. Voltei a sair sem ela.
Corri em direcção à paragem do autocarro, a da partida. Lembro-me de nem conseguir respirar. Corria com o coração a bater de uma forma estonteante. Corria sozinho, sem mim ao lado.
Ia sem nada nas mão, apenas com o sangue demasiado quente no coração, movido por uma vontade inconsciente, que hoje sinto que é muito mais do que consciente.

Perdi o autocarro...
"não há problema, apanho o próximo", pensei eu.
Sentei-me, esperei pelo próximo, e enquanto esperava, vivia..
Durante um ano fiquei sentado naquela paragem de autocarro.

Passou um ano, menos um dia, desde o dia em que eu havia perdido o meu primeiro autocarro. Acordei com dores nas costas, o meu corpo doía todo, pois tinha passado um ano de noites e um ano de dias naquela paragem. Estava um dia escuro, um vento gelado, as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Faltavam dez minutos para o autocarro chegar. Com um gesto instintivo como que para me certificar se tinha tudo comigo....
Faltavam-me as chaves da minha futura casa, a minha mochila com a roupa e com os meus documentos!!
Voltei à minha casa de todos os dias, a correr. As lágrimas caíam-me do rosto. Era o caos, o completo desespero. Quem me via tentava ajudar-me a encontrar o que só eu sabia onde estava, mas tinha esquecido onde me tinha deixado.
Só pensava que tinha estado um ano à espera daquela oportunidade..
Fechei a porta, saí de casa só com a roupa que tinha no corpo. Corria desmedidamente para aquela paragem de autocarro, sem mochila, sem chaves, mas.... mas desta vez até da vontade eu tinha esquecido.

E quando assim é somos vencidos pelo nosso próprio corpo.

Ajoelhei-me na estrada com os braços no chão. Não conseguia respirar, os meus pulmões gemiam, o meu coração batia a mil à hora. Levantei a cabeça, lá estava ele...
Havia entrado o último passageiro. Queria gritar, levantar-me e correr.. mas estava vencido pelo próprio corpo.
Vi-o a partir pela segunda vez.

Deitei-me na estrada, não houvia nada.. apenas o pôr-do-sol nas montanhas...

1 comentário:

  1. Autocarros estão sempre a passar... Às vezes demoram mais tempo do que estavamos à espera. Às vezes a carreira do autocarro muda o precurso, a paragem é noutro lado, um bocadinho mais longe ou um bocadinho mais perto. O que realmente importa, no entanto, é que se realmente queremos apanhar esse autocarro, não nos podemos prender com coisas tão vagas como os documentos e a chave e a roupa, na verdade, se apanharmos o autocarro, acredito mesmo que a chave, os documentos, a roupa, tudo estará à nossa espera quando chegarmos ao destino. Por isso...

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